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Cerrado Galeria | Goiânia

Paisagem aclimatada – Talles Lopes
Curadoria: Divino Sobral
[em cartaz]

Primeira exposição individual de Talles Lopes em Goiânia, Paisagem aclimatada reúne trabalhos que mostram o desenvolvimento atual das pesquisas do artista em torno do espaço, considerando suas formas de representação como formas de dominação, questionando-o enquanto território e tratando-o como construção humana assentada em questões de ordens política, econômica, social e cultural, cuja influência direciona a maneira  como são articulados os conceitos de cartografia, paisagem, paisagismo, jardim, lavoura e arquitetura.

Nascido em 1997 no Guarujá (SP) e residente em Anápolis (GO), o artista, que é um dos mais interessantes e inquietos de sua geração, possui formação em arquitetura, disciplina que tem papel proeminente em sua produção, dedicada a refletir sobre as marcas impressas sobre o espaço brasileiro pelos modelos de colonização e de modernização aqui implantados. Com ampla envergadura temporal, sua obra pensa o Brasil fazendo referências a fontes provenientes da história da arte e da arquitetura, da estatística, da botânica e do paisagismo.

Em Paisagem aclimatada Talles Lopes opera com procedimentos instalativos, articulando relações entre pinturas sobre telas e desenhos sobre papel dispostos sobre formas abstratas pintadas sobre as paredes, juntamente com vasos, criados nos anos 1950 pelo designer e arquiteto suíço Willy Guhl (1915–2004), contendo plantas ornamentais. Dispostos no espaço da exposição, os vasos criam uma paisagem-jardim aclimatada ao interior da Cerrado Galeria.   

Nas pinturas realizadas sobre telas, aplica sobre os contornos extraídos de cartografias do território brasileiro realizadas nos séculos 16 e 17, projetos de paisagismo de autoria de Roberto Burle Max (1909–1994), datados dos anos 1940-50. Burle Marx foi responsável pela criação do paisagismo modernista e pela inserção das plantas brasileiras nos projetos de paisagismo, abandonando a importação de espécies exóticas. Outra pintura sobrepõe ao mapa de Pernambuco o desenho da Casa Dominó (1954) projetada por Le Corbusier (1887–1965), engastando na estrutura arquitetônica da “Planta livre” a engrenagem de moagem de um engenho de cana do período colonial, reativando a ideia de “máquina de morar” contaminada pela ideia de máquina de moer gente escravizada. O arquiteto e urbanista suíço, Le Corbusier teve grande influência na arquitetura brasileira como consultor do projeto de construção do edifício do Ministério da Educação e da Saúde (de 1937 a 1943), ícone da arquitetura moderna do Brasil.

Deste edifício, Talles Lopes recortou a forma de um painel decorativo feito em azulejos por Candido Portinari (1903–1962) e a pintou sobre a parede da galeria. As formas pintadas em positivo ou negativo sobre as paredes não são mera cenografia da exposição, ao contrário, trazem referências de grande valor e dilatam a amplitude da pesquisa do artista, como a citação aos displays usados na Exposição Nacional do Estado Novo, que fora realizada entre 1938 e 1939 como um balanço da modernização do país e como propaganda de Getúlio Vargas (1882–1954). Como um site specif, na pintura parietal inspirada pelo display do Ministério da Educação e da Saúde naquela exposição, Talles Lopes insere uma pintura original de Burle Marx, acompanhada por desenhos que reproduzem alguns de seus projetos e pelo catálogo da importante exposição Brazil builds, realizada no Museu de Arte Moderna de Nova York em 1943, e que exibiu registros da arquitetura brasileira acompanhados de exemplares de plantas ornamentais da flora nacional. Em outras paredes estão pinturas monocromáticas executadas sobre suportes com formas abstratas e orgânicas, inspiradas nos canteiros desenhados por Burle Marx para o jardim do antigo Ministério, atual Palácio Gustavo Capanema.

Divino Sobral

Curador